cadê Urano, Netuno e Plutão?
uma reflexão sobre o uso dos planetas "exteriores" na astrologia tradicional
antes de mais nada, uma explicação para leigos: a rigor, astrólogues tradicionais não utilizam esses três planetas. a razão é muito simples. a astrologia é um sistema hermético, e por sistema hermético podemos entender um sistema harmonioso onde cada elemento tem uma funcionalidade que age em perfeição. a astrologia tem como base a observação dos pontos de luz do céu (assim como seus desaparecimentos), então toda fundamentação foi feita através dos séculos com a observação do céu a olho nu, e esse sistema hermético - impecável e fechado - funciona apenas com os planetas visíveis a olho nu. ou seja, urano, netuno e plutão estão longe demais para serem vistos, portanto previstos.
no entanto, o ponto de discussão que quero levantar aqui é: hoje em dia temos tecnologia para observar esses planetas, como outros olhares mais tecnológicos, não seria a hora de considerar esses planetas? eu acredito que uma boa relação com um conhecimento é aquela que admiramos os mestres, e usamos dos saberes fundamentais para construirmos novas perspectivas. então a resposta é sim. porém, isso não significa ignorar uma tradição e simplesmente jogá-la fora. para isso, exige-se muitos anos de estudos e observação para colocar o saber em circulação. por exemplo: um princípio básico da astrologia é o temperamento dos planetas que são divididos entre quente/frio e seco/úmido. essa divisão é essencial, porque vemos nos planetas quentes sua natureza ativa, enquanto nos frios é passiva. os planetas úmidos são favoráveis à vida, enquanto os secos a ceifam. qual seria a natureza de urano? seu trânsito causa impactos por ação? ele faz prosperar ou minguar? somente muitos anos de estudos de mapas e trânsitos pode responder questões como essa. outro questionamento: pensando que observamos os planetas de acordo com uma linha imaginária chamada zodíaco tropical, estamos por fim assumindo nosso ser ciborgue que também observa o universo com olhos mecânicos de lunetas e softwares? temos um giro cosmológico não apenas no sentido técnico, mas também filosófico. e isso, meus caros, ao meu ver, demanda um tempo de estudo e aprofundamento.
o que estou levantando aqui, portanto, não é uma crítica específica e localizada para es astrólogues tradicionais que utilizam os planetas invisíveis aos nossos olhos, mas para podermos pensarmos justamente nosso compromisso intelectual com este saber principalmente nessa nova geração de difusão rápida de pensamento. saberes que demandam tempo, gestação e aprofundamento estão tomando lugar para respostas imediatas, ansiosas (sei lá correndo pra quê em torno de quem) e a difusão de saberes que não estão devidamente aprofundados.
ao meu ver, comparar o trânsito de planetas mais distantes com períodos históricos, é um tanto anacrônico, pra não dizer onipotente. os trânsitos astrológicos não funcionam dessa forma e todos sabem disso. por exemplo, o trânsito de Júpiter em Capricórnio trazia uma premissa de um período de escassez, e junto à ele veio a pandemia do Corona Vírus. isso não quer dizer que o trânsito de Júpiter em Capricórnio há 27 anos atrás houve uma pandemia de patamar parecido. por que? porque os planetas nunca agem sozinhos. eles estão em consonância com outros trânsitos. há 27 anos, seu dispositor, Saturno, estava em Peixes e não em Capricórnio como esteve em 2020. isso muda muita coisa.
um outro questionamento diz respeito a regência dos planetas. iremos considerá-los como estrelas fixas distantes e invisíveis? ou como planetas que, para uma boa leitura, precisa reger um signo/casa? você já deve ter lido por aí que Plutão rege Escorpião, né? e esta afirmação não tem base dentro da literatura da astrologia tradicional. essa regência foi inventada por astrólogos modernos pela pura e simples correlação entre Plutão, mitologicamente associado a Hades, o rei dos mortos, e Escorpião, um signo "profundo", "mortal". e sim, a mitologia é muito importante para a correlação de planetas e signos, mas não só! a relação da regência de planetas tem origem na ordem caldaica, um sistema muitíssimo antigo fundamentado pelo povo caldeu e que tem uma ordem geometricamente pensada, assim como uma correlação de acordo com a ordem de velocidade dos planetas e as estações do ano. o que faríamos com isso ao observar estes planetas dentro de uma carta natal?
sendo assim, há muito o que se estudar e aprofundar antes de podermos falar de um verdadeiro e eficiente uso de Urano, Netuno e Plutão dentro dos termos e perspectivas da astrologia tradicional. eu pessoalmente levo muito a sério o princípio fundamental da astrologia: ser um oráculo. e oráculo é, estritamente, uma prática preditiva. sendo assim, uma boa leitura de mapa é aquela que dá uma boa previsão. e até hoje os sete planetas, doze casas e doze signos (que juntos podem dar mil técnicas com os lotes árabes, as profecções, direções etc) são o suficiente para conseguir prever de maneira certeira. precisa de mais? tenho minhas dúvidas. mas acho que o conhecimento está aí pra ser multiplicado, desdobrado e, por fim, difundido.
com compromisso e responsabilidade. caso contrário, só estamos com pressa de sermos vistos, visualizados, curtidos e compartilhados.
quer ler mapa comigo? minha agenda de maio abre dia 24 de abril, segunda-feira, me escreva no mardoscosmos@gmail.com
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um abraço e até a próxima!
Bárbara.
caraio amiga eu tô há semanas preparando um texto sobre transsaturninos kkkkk mas uma pegada diferente, claro, pegando uns exemplos da mundana. faz uns meses que comecei a observar esses 3 em mapas coletivos e to achando BEM interessante