O que realmente abriu meus olhos para a astrologia tradicional, enquanto eu estudava na abordagem moderna, foi quando numa pesquisa blogs de astrologia afora eu acabei descobrindo que era possível prever questões políticas, econômicas, guerras e afins. Em uma outra oportunidade eu conto essa história, mas foi aí que meu flerte tradicional começou.
Sendo assim, sim, o céu reflete a insanidade e delícia que é viver aqui no mundo. Historicamente são autores desde os primeiros séculos até a época renascentista que observaram, catalogaram e fizeram o que chamamos de aforismos, ou seja, posicionamentos que sugerem X ou Y característica ou evento. E são esses materiais que baseamos a maioria de nossos saberes. Felizmente atualmente temos alguns astrólogos que estão se debruçando a criar mais conhecimento agora atualizando conceitos e aforismos. Por exemplo, se casa 3 antigamente era no máximo um carteiro, hoje pode ser sistema de delivery.
Nessas vocês já podem imaginar que fenômenos naturais estavam previstos pelos antigos, e houveram registros desse tipo. Dilúvios que dizimavam plantações, marés altas, escassez de chuvas...quem se lembra de José, o sonhador, da Bíblia? O mesmo sonhava com o período de vacas gordas e vacas magras, ou seja, as previsões climáticas sempre estiveram presentes na astrologia e oráculos, inclusive foi a sua gênese. Antes de prever a vida de sujeitos, foi observando movimentos do céu com a natureza que se começou esse papo de previsão.
Bom, mas quem diria uma crise climática, ein? Obviamente os antigos não contavam com uma revolução industrial, fábricas, emissão massiva de co2, buraco na camada de ozônio...aliás, eles nem sabiam o que era uma camada de ozônio. Nesse sentido, a astrologia tradicional, ao meu ver, conta com duas frentes desafiadoras:
Toda previsão começa com uma pergunta e toda pergunta é respondida com um mapa. Os planetas mais distantes, como Saturno e Júpiter acabam sendo responsáveis por regerem períodos mais amplos e, consequentemente, abarcarem eventos de natureza mais coletiva. Sendo assim: como os trânsitos atuais respondem, através de um mapa, as perguntas que temos atualmente? É importante que a gente sempre reitere que os astros não "influenciam", não são simples trânsitos acontecendo lá que automaticamente geram eventos aqui na terra. As coisas estão em relação, ou seja, o símbolo (planeta) representa a matéria. Se a pergunta é sobre guerras, por exemplo, vamos olhar para Marte. E vice-versa. Se Saturno fala sobre as coisas que ceifam e acabam, eu olho para a terra e vejo onde isso está representado. E assim por diante.
Conclusão: é tarefa do astrólogo ter intimidade com o símbolo. O planeta, o signo, a casa, os elementos, seus significados e, assim, conseguir construir uma história coerente que possam sanar nossa dúvida sobre o futuro do planeta.Aqui fica uma parte mais filosófica. Assim como a natureza segue seu curso mesmo com todas as interferências humanas, assim seguem os movimentos dos astros independente da balbúrdia que os bilionários estão fazendo com nossos recursos naturais. Sabe aquela coisa que os cientistas falam 'no ano X podemos ter Y problemas se continuarmos a emitir gases na camada de ozônio' ou 'a água em 2050 pode acabar em não sei quantos % do planeta terra se continuarmos o uso de água como hoje nas indústrias'. Então, mesma coisa para astrólogos: se o consumo continuar do jeito que está, temos aí possíveis cenários anunciados pela astrologia. Então, por exemplo, se Saturno em Peixes em algum momento representou maré alta e alto número de naufrágios, hoje podemos ver como uma alta da maré em níveis bizarros, causando a invasão do mar pelas cidades e aumento do nível do mar para além do considerado normal.
E aí eu trago mais uma reflexão: o tanto de casa e cidade construído ao redor do mar, por exemplo, não era algo tão comum antigamente. Então uma alta de maré que, antigamente, representava ‘ok, a maré tá alta, melhor não pegar embarcação’, hoje significa 'fudeu, o mar vai entrar em nossas casas'. Então entramos aí todos numa questão que além de técnica, vai também pra noção cosmológica de existência: a humanidade avançou e muito em conhecimento, conforto e bem-estar, mas também criou condições """anormais""" para sobrevivência. Nosso desafio é saber olhar com calma e cuidado.
Além disso, uma das consequências desse 'avanço' é a própria globalização: que algo que a gente faz aqui se reverbera acolá sempre soubemos. Acontece que hoje A) nossa noção de mundo é muito mais ampla e completa (antigamente não se sabia da existência de outros continentes, por exemplo) B) a gente sabe, hoje, que a crise da seca do Pantanal se reverbera no derretimento das geleiras do Ártico. Como que prevê assim, de forma tão ampla? E aí volto no ponto 1: pra se prever é preciso de perguntas, e perguntas precisam de mapas. Uma resposta global com um único mapa não vai tá dando. Mas vários mapas olhando diferentes situações e regiões, possivelmente. Inclusive por astrocartografia (que sim, existe, mas não como melhor jeito de você passar seu aniversário rs) localizando locais mais ou menos prejudicados.
Agora vamos a parte técnica: o que os antigos falaram sobre os trânsitos que podemos pensar em como se reverbera atualmente.
Grandes Conjunções
Abu Ma’shar (787-886) mencionou sobre períodos de longos anos iniciados a partir da conjunção de determinados planetas. No fim de 2020 aconteceu a conjunção de Saturno-Júpiter em Aquário que, segundo o autor, inicia um ciclo de 240 anos.
O Guilherme de Carli fez uma análise muito boa sobre a conjunção que eu recomendo a leitura, e acrescento no que tange a questão ambiental: Saturno sendo o ceifador que impõe seus limites se encontra domicliado no signo de Aquário, signo que significa o ápice do frio do inverno. A escassez material nos leva a ter ideais mais convictos, por isso Aquário ser o famoso 'convicto': não dá pra mudar muito de ideia quando o período é escassez. Este signo sugere rigidez e a rigidez é naturalmente uma condição onde existe pouco manejo. As condições de clima, portanto, são cada vez mais incontornáveis. Isso me lembra, inclusive, o que os cientistas dizem o tempo todo: se não parar agora, não tem mais volta. Não é? Não tem acordo, não tem macete, não tem jogo de cintura. É vai ou racha.
Eclipses
Como eu sempre canso de falar todo eclipse: os eclipses são de natureza negativa. O luminar é escondido e começa um período de cerca de seis meses dos impactos avaliados a partir da leitura de um mapa para um determinado contexto e localização geográfica. Já recomendei e sigo recomendando o trabalho da Ísis que não só faz muito bem previsões mundanas, como todo mês avalia a lunações (mapas da Lua Nova) para prever acontecimentos no Brasil. Dito isso, a cada eclipse podemos fazer perguntas para o mapa pautando as questões climáticas. A parte interessante do eclipse é que o evento afeta a parte onde pode ser visível a olho nú e, dessa forma, podemos ter mais precisões sobre localização geográfica.
Trânsitos longos
Em geral, trânsito de planetas lentos representam eventos de natureza mais coletiva. Isso não quer dizer que planetas mais velozes não sejam importantes, mas justamente por serem velozes eles vão significar eventos pontuais, que acontecem em um ou dois meses. Por exemplo, Marte é relativamente mais veloz, mas ano passado passou cerca de oito meses em Gêmeos, o que foi muito relevante para avaliação dos trânsitos coletivos. Normalmente olhamos com mais atenção para Saturno e Júpiter, que têm trânsitos mais longos. Saturno enquanto ceifador, os fins, o limite e o tempo, e Júpiter o que possibilita, prospera e torna abundante.
Vamos lembrar de Júpiter em Capricórnio, em 2020, signo onde Júpiter se encontra mal, em sua queda, e tivemos nada menos que a pandemia da covid-19 (na época fiz um texto achando que teríamos uma crise agrícola de alimentos...quem diria né rs).
Minhas considerações
No período atual, de Saturno em Peixes, podemos considerar uma instabilidade de estruturas mais rígidas. Isso tanto no campo simbólico, mas também literal. E não há nada que desestruture mais um edifício do que a invasão das águas, seja pelo mar ou pelas tempestades. O ingresso de Saturno em Áries em 2025 é um pouco preocupante, visto que é a queda de Saturno num signo que exalta o Sol. Algo como nem o planeta senhor do tempo vai conseguir refrear o calor do nosso Astro-Rei. Saturno em signos quentes, segundo Guido Bonatti, é muito ruim. Saturno é naturalmente um planeta frio e em Áries se torna, de forma muito desconfortável, um planeta quente.
Mas é aquilo né: tudo depende das escolhas políticas que vão seguir em relação a este assunto.
Ano que vem, 2024, Júpiter ingressa em Gêmeos, seu exílio, e podemos esperar alguns desafios provindos do que a gente espera como abundância e prosperidade. Ainda que Júpiter goste dos signos de Ar e Gêmeos esteja associado ao fim da primavera quase início do verão, algo ali na nossa fé no futuro abre espaço para uma racionalização maior. Além de tudo, Júpiter chega em Gêmeos fazendo quadratura com Saturno em Peixes. Em certa medida, vejo uma possibilidade de vantagem na medida que Gêmeos pode refrear o consumo, organizar as despesas de reservas naturais mas que isso, sem dúvidas, afete a forma como temos levado a vida e isso possivelmente vai afetar a nossa noção de 'conforto'.
Bom, gente, mais ou menos isso que tenho a contribuir até aqui.
Acho importante lembrar que destino é uma via de mão dupla: tem coisas que estão em nossas mãos, e outras que não podemos controlar. Infelizmente a crise climática não é catalisada pela forma como tomamos longos banhos, e sim como indústrias gigantescas gastam litros de água por dia e os poderes políticos não fazem algo sobre isso. O nosso destino individual, mas também coletivo, está na mão de muitos poucos. Quem tem feito uma devida diferença são os movimentos políticos voltados para questões ambientais, os povos nativos, como os indígenas, e alguns parlamentares sensíveis a essa pauta.
Eu, por convicções pessoais, não sou otimista como uma melhora e, considerando os próximos trânsitos, acho que a situação se agrava. Mas como eu disse o destino é uma via de mão dupla: ao invés de ficar de boca aberta esperando a morte chegar, já diria o parceiro Raul, cabe a nós a consciência política e pequenos gestos como o apoio político aos grupos ativistas. Ao meu ver, só assim mesmo.
Como diria Ailton Krenak em seu livro Ideias para adiar o fim do mundo, a questão do fim de nossa espécie talvez já seja uma sentença. A questão é: como faremos isso de forma digna? Termino dando a palavra à ele:
“Há duzentos, trezentos anos ansiaram por esse mundo. Um monte de gente decepcionada, pensando ‘Mas é esse mundo que deixaram para a gente?’. Qual é o mundo que vocês estão agora empacotando para deixar às gerações futuras? Ok, você vive falando de outro mundo, mas já perguntou para as gerações futuras se o mundo que você está deixando é o que elas querem? A maioria de nós não vai estar aqui quando a encomenda chegar. Quem vai receber são os nossos netos, bisnetos, no máximo nossos filhos já idosos. Se cada um de nós pensa um mundo, serão trilhões de mundos, e as entregas vão ser feitas em vários locais. Que mundo e que serviço de delivery você está pedindo?”
um beijo,
Bárbara Ariola.
adoro sua sanidade :)