de olho no céu
Na Espanha do século XIII, houve um rei chamado Afonso X, o Sábio ou O Astrólogo que reinou o reino de Castela e Leão. Este Rei tem uma devida importância por ter sido responsável por promover a tradução de textos clássicos, dentre eles muitos estudos astronômicos, que na época não tinham distinção dos saberes astrológicos. Essa é uma história muito legal que pretendo contar melhor em outro momento, mas por conta de iniciativas de Afonso, existiu a primeira Cátedra de Astrologia em uma universidade, no caso a de Salamanca.
O fio que quero puxar nesta introdução, é que houve um rei que diretamente contribuia financeiramente e estruturalmente para a tradução, estudos e difusão do pensamento astrológico. Em um nível tão grande a ponto de incomodar a Igreja Católica naquele tempo e espaço. Fazer astrologia, portanto, era um estudo financiado e que tinha como objetivo trazer melhores respostas sobre os destinos e os acontecimentos que iriam acometer o reino e os que viviam ali.
Bom, o resto da história vocês já sabem. Se não sabem, breve resumo: séculos depois veio o Renascimento, que dentre as coisas incríveis, também vieram coisas não tão incríveis como a descrença em tudo que não fosse racional, exato e científico. Mais adiante com a colonização, o mercantilismo e os primórdios do capitalismo, falar que a Lua nos regia e que devíamos esperar um tempo determinado pra determinada ação virou coisa de maluco, lunático, ou bruxa ou gente mística esotérica.
-Diga-se assim só de passagem que eu não gosto desse estereótipo de pessoa mística, inclusive quem me conhece de perto não diz que eu sou uma pessoa vibes. rs-
Mesmo assim, a astrologia não morreu. Por incrível que pareça, o discurso em torno de algo que se relacione com os astros, com a natureza, com os ciclos, com as previsões, ainda chama atenção de algumas pessoas. A macumba, a benzedeira, os rituais, a magia, a atenção as estrelas se tornam lugares de cuidado e alento. No meio disso muita picaretagem, é verdade, mas isso a gente encontra até na ciência, não é mesmo?
Um fato é: não existem reis que patrocinam nossos estudos. Aliás, se algum governante fizesse isso, seria um escândalo. E antes que você ache que eu estou lamentando, eu compartilho com muita sinceridade uma crise pessoal: a astrologia vai sobreviver? e com isso vocês coloquem no balaio todas as formas e práticas de cuidado e espiritualidade fora da norma vigente.
Se o conhecimento e as práticas dependem de mãos, e as mãos que os fazem estão cada vez mais adoecidas, em uma lógica de sobrevivência em meio a algoritmos, engajamento e impulsionamento, tentando se destacar em multidões, como que a situação será cuidada? E pior: se quem vai conseguir é quem dispõe de tempo e dinheiro, qual é o corpo dessas mãos que vão continuar com a prática?
Esses dias fiz um post de agradecimento à confiança de quem compartilha seu tempo comigo através da arte que produzo, no caso, a interpretação de mapa e previsões. Há algo de muito gratificante em ver a vida se desenrolando em meio a outras vidas. Há algo que faz com que eu acredite e siga firme no que o destino me deu. É de uma beleza inestimável, e, pra mim, muitas vezes inacreditável.
Mas uma coisa é fato: quando você arrisca um ofício que está fora dos padrões oficiais estabelecidos, muita coragem precisa ser constantemente atualizada. Sempre digo para os meus alunos no primeiro dia de curso: astrologia tradicional e seu ofício requer uma coragem, pois é se aventurar profundamente em algo que tem pouco prestígio social.
E voltamos aquele ponto: coisa de maluco.
Não há reis, não há política de estado, não há instituições. Há a natureza na sua simplicidade e magnanimidade, no seu furor e na sua beleza, a cada Sol que se levanta e a cada fase lunar que revela que tudo faz sentido e ao mesmo tempo tudo age sem propósito.
Amanhã se inicia o novo Ano Astrológico, ingresso a zero graus de Áries, o momento que o Sol encontra a eclíptica e o equador, e damos início a um novo ciclo coletivo. Pra quem acredita e pra quem não acredita: as voltas todas da vida seguem dadas.
Ano desafiador para as terras, para o nosso solo, para os indígenas e em tudo isso eu lanço a provocação de que tenhamos mais atenção a nossa natureza. Ao solo que nos sustenta, ao alimento que nutre e ao conhecimento que vem de encontro ao bem-viver!
Se você está aqui deve minimamente concordar comigo.
Então, realmente, não é fácil bancar quem se é. Mas é mais difícil ainda viver entupido de ser quem disseram que deveríamos ser.
E deixo uma provocação que me auto estabeleci para este ano:
Quais ações estou pessoalmente tomando para que eu me aproxime do que considero um bem-estar, um bem-viver e não apenas uma felicidade fantasiosa, projetada e comprada?
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AGENDA MARÇO E ABRIL para leituras de mapa ABERTA » interessades mandem e-mail no mardoscosmos@gmail.com
Até uma próxima!
beijo,
Bárbara.
Excelente reflexão e provocação. A necessidade de se “renovar a coragem” tocou fundo. Obrigada pelo texto.