Quando o Sol transita o signo de Touro no hemisfério norte - referência pra linguagem astrológica - é o pico da primavera. A simbologia do signo, portanto, carrega o delícia de uma estação próspera, onde os frutos estão dando, as flores enfeitam árvores e o sol tem a temperatura ideal.
Quem rege Touro, é Vênus, a deusa regente de todas as delícias do mundo material. A minha analogia preferida de Vênus e Touro, é a do nascimento da Vênus. Vênus nasce nas espumas das águas, após a cisão entre Urano (céu) e Geia (a terra). Somente o amor pode unir o mundo celeste e material. Vênus nasce nua, coisa que não é tão óbvia na mitologia, já que há deuses que nascem com armaduras. A nudez de Vênus é representação da pureza de seu amor. Porém não uma pureza cândida, emaculada, mas uma pureza de quem tem o coração aberto, as vezes até ingênuo, tendo um visão generosa e amável do mundo. Ao nascer nua e ser empurrada pelos ventos para terra, Floris (justamente a entidade que representa a estação da Primavera) vem com um manto florido para cobrir Vênus, como quem diz: "querida, aqui no mundo das matérias não é possível ficar andando nua desse jeito!". A nudez, veja bem, não é literal. Floris tenta proteger o amor incondicional de Vênus num mundo que não só de amor vive.
É um aprendizado de que este mundo material, de fato, tem todos os sentimentos para serem vividos. Mas se Vênus nasce e chega até a terra, é porque ela vem ensinar que união vem pelo amor, e amor é vulnerabilidade, nudez, abertura. Sexualmente, esse posicionamento é muito relevante. Uma das formas de representação da união é a que é feita pela matéria, pelo toque. Somos capazes de acessar divindades através do toque. O divino de dentro de nós também é possível de ser ativado pela potência sexual.
Porém todavia entretanto, como sempre digo, aqui não tem moralização de certo ou errado, não é vista na moral boa ou má. A Vênus em Touro pode cair, sim, num espaço de idealizações. Pensando sempre em contexto, e que em nosso mundo o amor foi normatizado como romance, possivelmente esse posicionamento pode falar também de expectativas muito altas em relação a esse tipo de amor.
Lembrando, é o ápice da primavera, aquela estação mais confortável, quentinha, que não demanda tanto o trabalho, os frutos já estão todos os maduros e o sol bem gostoso. Se vivido um amor gostoso, tudo certo. E se não vivido, pode cair numa frustração de não enfrentar os desafios. Por isso costumo valorizar também os exílios, eles nos ensinam também a lidar com os desconfortos. Vez ou outra vejo esses aspectos em mapas individuais como uma dificuldade profunda em lidar com assertividade e desencaixes. Melhor dizendo em níveis simbólicos, o lidar que nem sempre as coisas são frutíferas e aceitar que dentro de relações e prazeres há também seus invernos e momentos de escassez.
Nesses momentos acho aquela Vênus que nasce das águas bem ingênua, achando que somente o amor e complacência vai dar conta de resolver e costurar nossas faltas. E sabemos que uma dosagem de raiva também catalisa movimentos, né? É aquele meme “te falta ódio”. Hahahaha Nem sempre haverá uma Flóris vindo com seu manto nos cobrir.
Amor é gostoso. Se relacionar também: mas para chegar à leveza do amor, há de se aceitar os atritos de se relacionar.
Por fim, Vênus lembra: sexo desliza como uma fruta madura que ao ser mordida escorre seu suco. É manso como um Touro que contempla o pasto. Não exige pressa. O gozo é mais do que atritar membros ou orifícios, é a admiração da manifestação do divino as vezes ali, bem no meio das nossas pern...ops, cama. Rs
Bárbara Ariola.
A pintura acima é de Sandro Botticelli, O Nascimento da Vênus, de 1483. Críticas ao Renascimento à parte (tenho várias!), eu pago pau pro Botticelli, e esse quadro é o que retrata o momento descrito de seu nascimento, junto a Flóris.