A Astrologia horoscópica, mais precisamente a que se desenvolveu no período Helenístico é essa Astrologia tal qual conhecemos que traz a figura do mapa astral. Anterior a isso os antigos apenas observavam o céu sem necessariamente determinar casas, aspectos e todo um sistema classificatório. Isso é meio óbvio, o próprio sistema chamado Astrologia foi criado e desenvolvido ao longo dos anos.
O mapa astral, portanto, é a visão do céu a partir de uma paisagem do horizonte.
Ao olhar o horizonte, temos o lado leste, onde o dia se inicia. Todos os astros, incluindo Sol e Lua, nascem no horizonte leste e neste lugar se determina o início de um dia. Com a rotação da terra, a visão aparente que temos daqui da terra é que os astros vão subindo céu acima até atingir o ápice bem no alto e depois, ao iniciar da tarde ir para o movimento de descida ruma ao horizonte oeste, que é onde todos os astros vão se pôr e desaparecer. Pensando nessa explicação, portanto, a imagem é mais ou menos essa aqui:
Tendo essa explicação em vista, a simbologia astrológica nos ensina o seguinte: se no horizonte leste nasce um dia, é no horizonte leste que se crava o ascendente, ou seja, aquilo que ascende, aquilo que nasce. Se todo dia se inicia quando o Sol cruza o horizonte leste, então todo evento se inicia na demarcação do grau ascendente.
O grau ascendente é calculado de acordo com o posicionamento do Sol em determinado dia, mês, ano, local que está numa latitude e longitude específica. Esses dados de data e local são os determinantes para se fazer um mapa astral, justamente porque ele vai me trazer a informação mais preciosa de todas: o grau do ascendente. É no grau do ascendente que se parte todos os cálculos de pontos preciosos que nos trazem informações sobre as mais diversas áreas da vida e, mais importante ao meu ver, a partir deste ponto é possível calcular as técnicas de previsão que vão nos dizer quando as coisas se desdobram em cada evento.
Ou seja, como já cansei de dizer, de nada adianta dizer “eu tenho Sol não sei onde e Lua não sei que, o que isso significa?” Nada, pois sem mapa astral, ou seja, sem determinação do ascendente não temos mapa, não temos caminho, não tem onde ir a lugar algum.
Se o grau ascendente, portanto, significa o início de um evento, ele é o evento em si. Pois ele anuncia a chegada deste evento, como veio, pra que veio, quais são suas principais intenções, ou seja, nos dá informações primordiais ou, como diriam os antigos, as motivações primárias daquele destino. E se estamos falando de um mapa natal, se aquele evento é o nascimento de uma pessoa, então o ascendente é a própria pessoa.
Tandadan.
Ao contrário do que muito se diz por aí, não, não somos o Sol e o ascendente não é a nossa aparência. Aliás, essa afirmação que é a aparência pode até ser verdadeira na medida que ascendente pode falar sobre como é a pessoa fisicamente, ou seja, sua aparência externa, corpo, rosto, traços etc. Mas não aparência no sentido do que se “mostra” para o mundo, o ascendente é o que a gente é mesmo.
E ascendente também é nosso destino. Para isso, temos que descer mais fundo em conceitos filosóficos que destoam da nossa noção de indivíduo no contemporâneo. Por isso bato tanto nesta tecla de que pra falar de Astrologia Tradicional é necessário questionar as epistemologias, ou seja, nossas visões e concepções de mundo. No mundo urbano contemporâneo ocidental temos uma visão muito calcada na ideia de indivíduo sobre o “EU”, um indivíduo único e consumidor, dentro de caixinhas classificatórias que, infelizmente, acabam por ser estereotipadas em signos do zodíaco (touro faminto, gêmeos tagarela, câncer chorão, blábláblá…).
A ideia de EU para a concepção astrológica de origem estoica com toques de aristotelismo (ou aristotélica com toques de estoicismo? reflexões), pensa num sujeito como um constitutivo de tudo que vivemos. Somos construídos a partir da família que nascemos, a forma como fomos criados, os meios que circulamos, as amizades que fizemos, as decisões que tomamos…ou seja, aquilo que chamamos de EU, o que se entende como sujeito não é apenas um ser moldado a partir de escolhas pessoais, desejos e ambições. Somos também atravessamentos (desculpa usar essa palavra que já entrou no ramo de palavras batidas e cafonas) de experiências, relações e até mesmo relações com seres não-humanos, tipo nossos bichos, os vírus, as bactérias e os fungos que já nos adoeceram e por aí vai. Eu mesma sou muito constituída de muitos seres da fauna microorgânica que vieram me apertar a mente ao longo da vida. kakakaka, eu ein.
“Em primeiro lugar, o sábio sabe decifrar os signos do mundo que indicam os acontecimentos futuros, pois tais acontecimentos estão determinados no momento presente. O sábio, lendo o livro do mundo, isto é, estudando a physis e percebendo a necessária inter-relação de todos os eventos, consegue decifrar tanto o passado quanto o futuro, pois a divinação não é nada mais que a leitura de sinais já presentes aqui dos acontecimentos futuros que, como já vimos, estão totalmente determinados pelos acontecimentos que os precedem.” Marcus Reis Pinheiro1
Sendo assim, o ascendente representa esta constituição do que foi, do que se é e do que será. Cada signo que ascende no horizonte traz informações sobre a direção daquela vida, o regente do signo ascendente mostra pra onde essa direção se encaminha e o signo onde está o regente do ascendente mostra a forma como isso se manifesta. Por exemplo, se uma pessoa tem ascendente em Peixes, a motivação de seu destino terá essas características do signo de Água, coletivo, nanana, mas se o regente for um Júpiter em Gêmeos, a forma como essa motivação vai se manifestar será através de um signo de Ar, flexível, dual, ambíguo, e possivelmente estamos falando de desafios afinal água e ar não são elementos que tem afinidade. Por aí vai.
Conclusão: se o ascendente representa o início de um evento, do ponto de vista da Astrologia somos todos um evento. Isso nos faz especiais? Depende. Especial não é ter destaque, especial é ter em vista que todas as vidas são um acontecimento dentro da cadeia de eventos da existência. Se toda chuva que cai do céu é um evento climático, então toda chegada de uma vida no planeta terra é um evento da existência. Isso pode ser interpretado de forma fantástica ou puramente banal.
O que a gente sabe é que se todo evento que ocorre com hora, data e local marcado tem um mapa astral, então é possível saber a direção de todos os eventos que acontecem na existência. Assim como as plantas sabem que devem crescer e os gatos sabem que devem se lamber para se limpar. A gente é que se perdeu demais nesse personagem chamado humanidade e esqueceu pra onde tem que ir.
Existirmos a que será que se destina?
a Ísis tem um texto maravilhoso sobre a metáfora náutica que os astrólogos deram para o ascendente em sua newsletter Meio do Céu. Recomendo a leitura, clica aqui neste link.
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um beijo,
Bárbara.
Determinismo, Liberdade e Astrologia nos Estóicos, Marcus Reis Pinheiro. Agosto de 2009 Universidade Federal Fluminense.
que forma muito mais bonita de leitura!
lindo, maravilhoso e necessário. A vida é uma festa, e eu estou nela. Sou o aniversariante.